21 Dicas Para Ser Mais Criativo

Texto de Caio Narezzi, originalmente publicado pela revista Computer Arts Brasil em agosto de 2016.


Designers convidados: André Binhardi, São Paulo  Antonio Rodrigues, Brasília  Diego Morales, São Paulo  Rodrigo Brod e Germano Redecker/Frente, Lajeado  Frederico Antunes, Porto Alegre   Gustavo Piqueira/Casa Rex, São Paulo  Jader de Melo, Goiânia  Três Design, São Paulo  Wil Junior/Leite.com, São Paulo

Veja os conselhos de grandes profissionais do design para criar projetos cada vez mais inusitados se destacar no mercado criativo

Ter uma técnica apurada não é suficiente para ser um bom designer. Técnica é algo que se adquire com o tempo. Mas o que diferencia os bons profissionais é  que se passa dentro de suas cabeças. É preciso ir muito além de dominar os recursos de software o saber fazer um desenho correto. Para um bom designer, é fundamental ter boas ideias, ser criativo, se preocupar sempre em fugir do lugar comum e ter um busca constante pela inovação. Trabalhar o cérebro é essencial.

Esse é um exercício que precisa ser feito diariamente. Até nos momentos de lazer. Às vezes pode parecer puro entretenimento, mas quando você vai ao cinema, a uma exposição de arte, lê um livro ou faz uma viagem dos sonhos está adquirindo conhecimento e novas referências para um novo trabalho. Então, abuse dessas diversões para se tornar um profissional melhor e mais criativo.

Ao juntar todo esse conhecimento, você vai ter novas ideias que antes pareciam impensáveis. Ouse em um suporte não usual – e acessível – para ilustrar crie um logo diferente, mas ainda assim eficiente e elaborado; dialogue com elementos opostos em um mesmo projeto; e nunca se proíba de ter ideias mirabolantes, mesmo que pareçam impossíveis de serem executadas. Tudo para você transformar um briefing comum e um trabalho fora do comum.

A Computer Arts conversou com diversos profissionais que conseguem usar saídas incomuns para projetos que fazem parte da rotina de quem trabalha com criação em design. Confira as melhores dicas para impulsionar seu lado criativo sair da zona de conforto.

Referências


1. Bagagem cultural

Referências externas são muito importantes na hora de sair do lugar comum. “Não dá para pensar fora da caixa se você não conhece cinema, literatura, artes e, mais importante do que isso, a realidade em que estamos inseridos”, afirma Rodrigo Brod, do estúdio Frente, de Lajeado (RS). Para adquirir essa bagagem cultural é fundamenta frequentar cinemas, museus, galerias e espetáculos.

Com essas referências, o designer terá uma base melhor na hora de criar projetos mais ousados. “Como também sou professor, me chama muito a atenção a falta desse conhecimento cultural. No último semestre, apresentei uma obra do Andy Warhol em sala de aula e poucos alunos conheciam”, lamenta Rodrigo.

André Binhardi, da agência be_air, de São Paulo, também acredita que sair da inércia é importante. “O trabalho às vezes transcende o design e a publicidade, vai um pouco além. É preciso olhar para a vida e sair, ir ao cinema, a exposições, ler revistas, saber o que está acontecendo no mundo. Costumo dizer que é necessário ‘sair da caixinha’, sair da agência, dos mesmos sites, e respirar novos ares”, diz.


2. Busque fontes diferentes

Ter um histórico cultural é fundamental mas além disso, também é importante ter diversas referências de pesquisas e sempre diversificar as fontes. “Não busco só nos livros de arte, busco nas pessoas também, porque se eu trouxe sempre as mesmas referências e mesmos elementos meu trabalho vai ser repetitivo”, explica o artista Antônio Rodrigues, de Brasília (DF). “Mesmo que em determinado momento e repita os elementos, tento, pelo menos, não usar da mesma forma.”

Por isso é sempre importante estar ligado no que está acontecendo no mundo, saber se posicionar diante de uma boa referência e compreender que o trabalho do design agrega muito à vida cultural dos outros. “Sempre respire novas ideias, se atualize e pesquise novas referências. É importante ter uma vivência legal entre os projetos”, acredita André Binhardi.


3. Usar referência não é imitar

Ter suas referências para um projeto é importante. Porém, é preciso saber que aquilo serve apenas como base e copiá-lo não fará com que o designer crie algo novo. “Quem quer se basear no trabalho dos outros para fazer algo autoral está perdido”, acredita o designer Frederico Antunes, de Porto Alegre.

Ninguém é impedido de usar referências. Elas são importantes para criar uma base, mas o que Frederico sinaliza como erro é ficar limitado a ela e não entender que aquilo é apenas uma parte do processo de criação. “Nunca se baseie em trabalho de ninguém. No começo, quando não há muito repertório é difícil. Mas quando for começar um trabalho, sente e pense dois minutos a mais em vez de ficar duas horas na internet. Aí é que está a diferença”, pontua ele.


4. Veja além do design

Por mais estranho que possa parecer, o conselho das meninas do estúdio Três Design, de São Paulo, é: “Não pense em design”. Formado por Lívia Tito, Maíra Martines e Roberta Guedes, elas defendem que para criar peças que não sejam “mais do mesmo” é preciso enxergar que o design interage com diversas outras áreas e que segmentá-lo é empobrecê-lo.

“Acho legal a integração entre arquitetura e design, tudo é realmente ligado. A gente aprende tudo junto: arquitetura, design e desenho industrial.

Isso é crucial para o que a gente produz hoje em dia”, conta Lívia. Refletir sobre outras áreas e não se limitar apenas ao design é uma forma de perceber que técnicas, elementos e autoria vão muito além do que a maioria produz.


5. Faça um moodboard

Depois de ter recolhido referências que passam por filmes, músicas, literatura, arquitetura e obras de arte, é hora de montar um moodboard para facilitar o trabalho. A ideia é juntar tudo em um quadro na parede e consultar conforme o trabalho é desenvolvido.

“Sempre faço uma pesquisa visual e conceitual visando chegar em um moodboard. Isso é bem importante para te situar e te posicionar frente ao problema que você tem que resolver, além de ajudar a imergir na problemática”, explica Diego Morales, de São Paulo.

Estilo


6. Aproveite os gostos pessoais

Ter um traço próprio pelo qual o designer é conhecido é ótimo para o sucesso, mas se manter preso a um padrão único faz com que o profissional não consiga mostrar diferentes facetas para trabalhos diversos. “Às vezes, temos que buscar a melhor solução para um projeto, sem nos restringirmos apenas ao nosso estilo”, analisa Diego Morales. Fora isso, se limitar é, querendo ou não, tornar-se comum. Por isso, ter um estilo é bom, mas saber extravasá-lo é melhor ainda.


7. Não se restrinja ao seu estilo

Ter um traço próprio pelo qual o designer é conhecido é ótimo para o sucesso, mas se manter preso a um padrão único faz com que o profissional não consiga mostrar diferentes facetas para trabalhos diversos. “Às vezes, temos que buscar a melhor solução para um projeto, sem nos restringirmos apenas ao nosso estilo”, analisa Diego Morales. Fora isso, se limitar é, querendo ou não, tornar-se comum. Por isso, ter um estilo é bom, mas saber extravasá-lo é melhor ainda.


8. Misture elementos

Dialogar com elementos opostos pode ajudar a enriquecer um trabalho. Falar de um assunto a partir de elementos que, normalmente, não se combinam é uma saída. Um bom exemplo é o projeto “Better with Flowers”, de Antonio Rodrigues. Ele juntou dois elementos completamente distintos: palavrões e flores. “O conceito básico era fazer um contraste entre o gracioso com algo extremamente agressivo”, explica ele. “O que há de verdadeiro ali é a agressividade e, ainda assim, ele é delicado. Gosto de brincar com conceitos.”

Mas não é preciso usar apenas temas opostos. É possível adotar elementos de universos complementares, como cinema, HQ, artes e literatura, por exemplo, para criar uma só peça.


9. Não repita trabalhos

Se deu certo usar uma tipografia ou determinados elementos em um projeto, isso não quer dizer que você deverá usá-los em todos os outros que aparecerem. O mundo criativo é muito rico em novidades e elas sempre estão aparecendo por aí. “Quando percebi que podia usar a diversidade a meu favor, vi que tinha muita liberdade”, conta Antonio Rodrigues.

Saiba selecionar aquilo que importa em cada trabalho e, para sair da zona de conforto, crie coisas cada vez mais criativas. Não há limites para a criatividade. “Gosto de mostrar coisas novas. Se alguém vir meu trabalho novo e falar: ‘Isso é a mesma coisa que ele fez seis meses atrás’, nossa, para mim é terrível”, reflete Antonio.
 

Comunicação eficiente


10. Seja o observador

Criar formas inusitadas de comunicar às vezes pode cair no extremo oposto: o não comunicar. Em projetos autorais, todo designer tem a liberdade de fazer o que quiser. Mas na hora de criar para um cliente, a comunicação é fundamental.

“É muito fácil para quem está criando ter uma visão pessoal do projeto e criar uma expectativa muito grande ao esperar que todos vejam o trabalho da mesma forma”, pontua Antonio Rodrigues. “Sempre que tenho um trabalho, tento abstrair a minha parte de autor e ver como eu mesmo receberia o trabalho se ele fosse de outra pessoa”, orienta.


11. Seduza o público

Muitas vezes criar uma imagem intrincada e nova pode causar estranhamento no público em geral e isso não é positivo no design comercial. “Você precisa se comunicar imediatamente com a pessoa que está vendo seu trabalho. Se não acontece isso, o produto não vende e o observador, que também é consumidor, vai passar para o próximo produto”, explica Antonio Rodrigues. “Você tem que seduzir quem está vendo sua arte de forma imediata.”

Mas para seduzir não é necessário usar meios óbvios. “É um erro achar que essa comunicação só pode ser feita de um jeito, num só tom”, acredita Gustavo Piqueira, da Casa Rex, de São Paulo. “Existem inúmeros tipos de comunicação. Nem todo projeto de design é uma placa de trânsito, que precisa comunicar uma mensagem 100% objetiva.”


12. Tenha um porquê

Ter um conceito base em qualquer projeto ajuda a saber aonde chegar no fim. “Desenvolva projetos que carreguem, mesmo que subjetivamente, um ‘porquê’”, aconselha Wil Júnior, diretor de criação da Leite-Com, de São Paulo. Trabalhar em um projeto exige muito mais do que habilidade técnica ou material a ser usado.

Antonio Rodrigues segue a mesma linha e afirma que ter uma história a ser contada é o que compõe o trabalho final. “Tem que ter um roteiro e um bom senso de entendimento do papel de cada elemento que compõe o trabalho final. Tenho visto muitos trabalhos que são tecnicamente impecáveis, mas são vazios de roteiro e por conta disso são facilmente esquecidos”, afirma ele. Então, não adianta ter um trabalho extremamente ousado se não há um porquê por trás.
 

Material e técnica


13. Produza seu próprio material

Para tornar um projeto mais personalizado, nada melhor do que conseguir criar seu próprio material. Muitas vezes, o prazo não permite, mas tente sair da frente do computador e ir atrás do que está disponível ao seu lado.

“Precisa de uma textura de madeira para um fundo? Vai lá e tira uma foto de uma árvore”, aconselha Frederico Antunes. Soluções simples como essa podem ajudar a criar um trabalho único. “Produzir seu próprio material dá base para começar um trabalho com cara mais autoral, e fica diferente dos outros”, acrescenta.


14. Use materiais inusitados

Inovar em conceitos também envolve pensar em novos materiais. Não precisa ser nada ousado. Veja o caso de Jader de Melo, que ilustrou em bolachas água e sal e usou latinhas de atum vazias para colocar seus desenhos. Dois métodos que não contaram com um gasto excessivo de dinheiro e foram soluções inovadoras. “Estudo o material que vou trabalhar e faço muitos testes e rascunhos. Depois de tudo, ainda faço um acabamento”, conta Jader. Por isso, é importante reparar sempre em tudo ao redor para saber o que pode ser utilizado como um novo material.


15. Volte ao manual

Colocar a mão na massa é uma forma de tornar o projeto mais pessoal e criativo. O computador existe para facilitar a vida dos profissionais, mas depender dele em tempo integral pode prejudicar alguma saída mais criativa. “O cartaz [do filme] O céu sobre os ombros (2011) foi feito com papel vegetal recortado e escaneado”, explica Roberta Guedes, do Três Design. “Se tivéssemos feito no computador teria outra cara. Mas esse estilo que resolvemos dar casou muito com o filme.” Portanto, além de produzir seu próprio material, tente voltar aos processos que dependem mais do esforço manual do que do tecnológico.

Seja autoral


16. Saia da zona de conforto

O lado autoral aparece em projetos que o designer não tem domínio completo sobre o tema retratado. “Às vezes, o profissional não tem nenhuma vivência no assunto e consegue apresentar uma solução inusitada para o trabalho”, acredita Frederico Antunes. Isso porque o designer carrega outras referências que podem se unir de uma maneira diferente a determinado assunto, tornando aquele projeto específico inovador.

“É preciso viajar entre linguagem, mercado, técnica, entre coisas diferentes”, opina. “Quanto mais conseguir trabalhar em mídias e técnicas diferentes, mais você sai da zona de conforto e consegue achar soluções inusitadas.”


17. Não se proíba

Em alguns casos, ter uma ideia mirabolante pode frear o processo criativo por achar que aquilo não poderá ser aplicado na prática. Ou, então, o contrário. Na busca por criar algo novo, a tendência de não repetir qualquer uso de material ou técnica pode aparecer. Mas não se proíba em nenhum dos casos. “Gosto de usar técnicas diferentes, mas não é porque acabei de fazer um trabalho com giz que vou passar seis meses sem mexer com giz”, exemplifica Antonio Rodrigues.

Se proibir também pode acontecer em caso de projetos que deram errado. “Se, por exemplo, fiz um trabalho de fotomontagem e não foi bem recebido, não é por isso que nunca mais vou trabalhar com a técnica. Pelo contrário, vou trabalhar e fazer melhor”, aconselha o artista.


18. Seja referência

“Não consigo pensar que cada projeto é um processo isolado”, afirma Rodrigo Brod. “A gente acredita que o design não deve apenas trabalhar com réplicas e autorreferências, mas sim contribuir culturalmente com a sociedade.”

Os projetos precisam ser pensados além de um objetivo inicial. Ele deve ser levado em conta como parte de um processo cultural em que tudo está associado. “Cada projeto que criamos tem um pouco disso. Nos preocupamos com os objetivos de cada cliente na mesma medida em que nos preocupamos com qual contribuição aquele projeto vai trazer para as pessoas que estiverem envolvidas com ele: cliente, público interno, mercado consumidor e concorrentes”, explica Rodrigo.

Goste do que você faz


19. Divirta-se 

Ter prazer não quer dizer não leva o trabalho a sério. A ideia é pegar elementos e brincar com seus limites. “Quando você é muito fechado ao conceito inicial, isso acaba refletindo no produto final.

Quando você se diverte, isso também faz com que quem está vendo seu trabalho veja além daquilo que está sendo mostrado”, explica Antonio Rodrigues.

Portanto, tente trabalhar mais leve, ouse em temas e ache um caminho que fará com que você curta seu projeto. Não se limite e tente buscar opções que façam com que o trabalho seja mais leve. E não desista se novas ideias não derem certo no começo. “Arriscar é parte inerente ao processo de se fazer algo novo. É preciso se acostumar a eventuais (e prováveis) rejeições”, alerta Gustavo Piqueira.


20. Seja apaixonado

Pode parecer óbvio, mas fazer as coisas com paixão eleva o trabalho e o torna melhor. Em design, é importante pensar de forma especial em todos os elementos que envolvem um projeto. “Sou apaixonado pelo design em todos os seus aspectos.

Acredito no design como uma ferramenta transdiciplinar de comunicação”, aponta Diego Morales. “Portanto, nós, designers devemos estar aptos a passear por várias áreas e criar novas relações para chegar a algo novo.”

A paixão pelo design acaba fazendo com que o profissional não se mantenha parado, mas sempre se reinventando. É essa vitalidade que deve ser o atrativo para quem busca novidades sempre.


21. A diversão pode tornar-se especialidade

Trabalhar um hobbie nas horas livres pode ir além do prazer. Em algumas situações, pode até mesmo gerar novas oportunidades de trabalho. “Tem coisas que surgem sem o comprometimento de ser comercial, que o cara faz por prazer e de repente isso vira uma oportunidade e ele é convidado para expor”, exemplifica Jader de Melo.

Mas o contrário também pode acontecer. Trabalhar um tema fora da sua zona de conforto também melhora o artista.“É desafiador desenhar o que você não gosta e é isso que evolui o artista”, analisa Jader. “Depois, você aprende a gostar de desenhar o que não gostava.”

Essa maturidade artística é importante na hora de tirar seu projeto do chão e colocá-lo em uma representação mais artística. Compreender o que não gosta, mas saber extrair disso um lado criativo é importante.